Se
vocês querem ser mais livres do que quanto existiu até agora,
venham ouvir-me
venham ouvir-me
- Walt Whitman]
Desce. Desce mais
ainda.
Aqui ou em Tsárskoie
Seló ou East Coker
É sempre escuro depois
da zero hora
Escuridão de chão e
muros e pedras.
(Não conhece ainda a
escuridão das águas e o vento
E nunca existe o
Bom-Selvagem se um dia pisou e viu
O chão, muros e pedras)
Desce. Desce mais
ainda.
O frio já invém e
cada pedaço de lugar
É comido pelo tempo,
triste lugar.
Pedra ontem, pedra hoje
e nunca
A mesma diante do olhar
variegado e tua descida.
Desce. Desce mais ainda.
Que importa se o
agasalho mal te cobre
E todo olhar variegado
é igual?
Passam os seres com
suas desumanidades e doenças
Tantas, como as tuas. O
normal é que os desaproxima
E faz bochicho, chacota,
ou nem isso e nem nada
Como a lua nova na calada
madrugada
Desce. Desce mais
ainda.
Até que não haja um só
dente na escuridão.
Reles, vil, faz-te de
cada cimento e aço
Dos lugares que não
o-são
Transubstancia-te de
tudo o que fizeram
A Grande Civilização e
Cultura, te alastra
De todo o Tempo e a
palavra
Costume, hoje é mais um
dia.
Desce. Desce mais
ainda.
Ácido, pérfido, até que
descalce
Todo milagre – o falar,
o ranger dos ossos
Qualquer lágrima como
lâmina fria
O calor de uma e outra
mão.
Desce. Desce mais
ainda.
Conversa com a Treva, os
desclassificados das calçadas
Aquele que agoniza numa
casa em chamas, Escória e Só.
Conte aos amontoados de
pele e ossos
E a carne-necrose dos
segredos menores -
O ínfimo, o invisível,
esses séculos de História, Pó.
Desce. Desce mais ainda.
Com a lata, as cinzas,
o isqueiro e a colher
Os lábios queimados e o
sangue exposto
Sê mínimo, agudo,
cidade-baixa.
Então te levanta.
É Gente.
De frio e escuro e
solidão.
Pode ser Grande?
9 comentários:
Nina,um exercício de humildade e reencontro consigo e com seus mais intimos e reais afetos!Lindo! Graça
Absurdamente belo! Tão grata por ler-te! Obrigada! Um abraço grande. E só.
"Conversa com a Treva, os desclassificados das calçadas
Aquele que agoniza numa casa em chamas, Escória e Só.{...}
Sê mínimo, agudo, cidade-baixa.
Então te levanta."
Il poeta della democrazia Americana. Saluti da Salvatore.
Que beleza de poema!
""Conversa com a Treva, os desclassificados das calçadas
Aquele que agoniza numa casa em chamas, Escória e Só.{...}"
Parabéns!
Beijo,
Claudio Daniel
Daqueles poemas que tornam até difícil comentar porque nos calam.
Depois das cataratas o que é uma gotinha. Mas , taí a minha. Que ao menos soe fosforescente. bj procê, Nina.
Emudece, realmente. Nem escolho um trecho. Cala todo o poema, e catapulta.
É mesmo muito lindo, diz muito daquelas coisas que já sabemos mas pelas quais passamos indiferentes tantas vezes.
Beijo, Nina.
Lindo poema, adorei as imagens.
Beijos
Tô descendo.
Poema de se ver no agachado.
Um beijo, Nina!
Postar um comentário