quem é a melhor mãe do mundo? para cada criança sua própria mãe; para mim todas (ou quase)! mas essa Mamma Bird é mesmo muito especial, ainda mais ouvindo assim, da sua cria! 🧚🏿♀️
"Minha mãe é a melhor mãe do mundo! / Quando eu digo isso assim, de supetão, todo mundo duvida, / tiram onda comigo, entram em arenga..."
quem ou quê seria a melhor mãe do mundo?
a minha, a sua? algo escrito e jamais sido?
pra maioria das crianças são as suas sim, não importa como sejam ou como a sociedade espera que elas sejam. lembro muito de quando iniciei minha jornada como mãe e, cheia de culpas e incertezas, minha sábia amiga @robertasilvapinto me aconselhava: “calma, quer saber se tá acertando? é só ver sua filha tá feliz” <3 porque obviamente até quando a pequena dormia na rede da praia tinha gente pra dizer que: ó que mãe horrível.
obviamente esse livro não é apenas sobre frufru, não sobre “lugar comum”, não é mela-cueca, risos. é um livro que toca em privações, mas reflete muito mais sobre nossa comunidade de afetos, sobre se movimentar e, mais que uma maternidade, uma vida em que acredito: comunitária, livre.
quero muito, muito, que crianças e pessoas de todas as idades, gente de toda a idade e todo canto, leia esse livro. talvez a coisa escrita mais bonita que já fiz, e que ganhou uma nova vida e novo sentido, aliás deu sentido à comunidade, com as ilustrações de @veriscarpelli🧚🏿♀️
digo sem medo de exagero: o livro mais incrível que escrevi está vindo ao mundo! meu primeiro livro infantil! 🥳
gracias, eternas gracias a todes que acreditaram e fizeram possível. olive, como diz a minha cria 🖤
traduzi os três poemas fabulosos abaixo para o 7º número da revista despacho editada pela corsário-satã e com curadoria de fabiano calixto. deixo os poemas aqui e o convite neste link para que leiam a revista completa. tá peso.
Ode à gentrificação
Samantha Thornhill
Moradores coroas desse
bairro branqueado-qboa dão a letra:
a coisa mais autêntica
dessa rua reinventada
na madame branquela
e no seu yorkie
é o couro da coleira
que os acorrenta.
Seu próprio nome, um estilhaço
de vidro profundamente enraizado na banha
do nosso vernáculo. Gentrificação,
justamente confundida
com justaposição:
cults bacaninhas com arrogância,
grilagem de terras,
arranha-céus depressivos,
bodegas suspirando soja.
Meninas e moleques peruanos engordam
geladeiras com puríssima água Fiji entre
uma e outra tarefa de casa, enquanto papai
prepara e reparte tudo e mamãe
se preocupa com os registros de energia.
Fazendo fita pra tua gratificação,
O nascimento é gratidão – irmã
gêmea do arrependimento.
Me chama de arrependida.
Foi mal aí te agradecer
pelo jeitinho que
participo da sua cruel
e conveniente, mágica.
Por remover
as famílias que sonharam
onde minha cabeça hoje descansa.
Ontem, as roupas voltaram da lavadeira
mais límpidas que sinos, lingeries
acariciadas pelas mãos
de outra mãe.
Sento em cima da cara
seu lado da moeda,
bebendo a escória azul do céu
enquanto os adolescentes que ensino,
e as vóinhas pretas
duronas que dou um salve
e ofereço um banco,
beijam o asfalto.
--
Ode to Gentrification
Old school denizens of this
bleach-boned block say:
the realest thing
about the white woman
and her Yorkie
on this reimagined street
is the leather of the leash
that tethers them.
Your very name, glass
splinter planted deep in the fat
of our vernacular. Gentrification,
rightly mistaken
for juxtaposition:
pretty boys with swagger,
checkerboard trains,
skyscraper sadness,
bodegas sighing out soy.
Peruvian girl and boy fattening
fridges with Fiji between
homeworks, while Pops
slices and dices, and Mom
rocks the register.
Kissing cousin to gratification,
you birth gratitude—
twin to regret.
Call me regrateful.
I am so sorry to thank you
for the manner in which
I participate in your cruel,
and convenient, magic.
You ushered out
the families who dreamed
where my head now rests.
Yesterday, I retrieved laundry
cleaner than bells, unmentionables
caressed by another’s
mother’s hands.
I sit on the up-
side of your coin,
drinking down the sky’s blue
dregs, while the teens I teach,
and the sturdy black
grandmothers I salute
with my seat,
kiss concrete.
*
Carvão
Audre
Lorde
Eu
A
suprema pretura, que fala
Das
profundezas da terra.
Existem
muitas maneiras de se abrir.
Como
um diamante se abrindo num nó em chamas
Como
um som se abrindo numa palavra, colorida
por
quem assume os riscos para falar.
Algumas
palavras são abertas
Como
um diamante em vidraças
Cantando
na cadência do sol que as atravessa
E
também há palavras como desafios grampeados
Em
blocos-de-notas – listar, comprar e descartar –
Aconteça
o que acontecer, todas as possibilidades
O
canhoto permanece
Um
dente mal-arrancado com uma borda lascada.
Algumas
palavras vivem na minha garganta
Se
reproduzem como víboras. Outras conhecem o sol
Buscando
como ciganas sobre a minha língua
Explodir
pelos meus lábios
Como
jovens pardais explodindo sua casca.
Algumas
palavras
Me
atormentam.
Amor
é uma palavra que inaugura outra maneira de se abrir.
Como
um diamante se abrindo num nó em chamas
Sou
preta porque venho das profundezas da terra
Segura
a minha palavra, como uma joia aberta em sua luz.
--
Coal
I
Is the
total black, being spoken
From the
earth's inside.
There are
many kinds of open.
How a
diamond comes into a knot of flame
How a
sound comes into a word, coloured
By who
pays what for speaking.
Some
words are open
Like a
diamond on glass windows
Singing
out within the crash of passing sun
Then
there are words like stapled wagers
In a
perforated book – buy and sign and tear apart –
And come
whatever wills all chances
The stub
remains
An
ill-pulled tooth with a ragged edge.
Some
words live in my throat
Breeding
like adders. Others know sun
Seeking
like gypsies over my tongue
To
explode through my lips
Like
young sparrows bursting from shell.
Some
words
Bedevil
me.
Love is a
word another kind of open –
As a
diamond comes into a knot of flame
I am
black because I come from the earth's inside
Take my
word for jewel in your open light.
*
MALCOLM X
Gwendolyn Brooks
Para Dudley Randall
Primordial.
Tipo puído-puro,
Tipo poderoso-parrudo.
Seus olhos eram de homem-falcão.
Ficamos perplexos. Vimos a virilidade.
A virilidade varrendo tudo, tornando o ar gutural
E nos impulsionando contra as muralhas.
E num momento sereno e essencial
Um sortilégio piedoso e vertical
Seduziu o mundo.
E nos abriu pra sempre porque -
Ele era
palavra-chave
Ele era o cara.
--
MALCOLM
X
Gwendolyn
Brooks
For
Dudley Randall
Original.
Hence ragged-round,
Hence rich-robust.
He had the
hawk-man’s eyes.
We gasped. We saw the maleness.
The maleness raking out and making guttural the air
And pushing us to walls.
And in a
soft and fundamental hour
A sorcery devout and vertical
Beguiled the world.
há algum tempo recebi o feliz convite da Bienal do Livro Rio para dizer qual a cidade imaginária da literatura onde iria morar. deixo minha resposta abaixo, não sem convidar todo mundo para acessar a página da Bienal e conhecer as outras 4 cidades elegidas por Ana Maria Machado, Luisa Geisler, Raphael Draccon, Paula Pimenta :)
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Quando eu era piveta gostava muito de ler (e assistir) obras de ficção científica e fantásticas, como Viagem ao centro da terra, Eu, robô, Crônicas marcianas, Blade runner, A ilha do dr. Moreau, Admirável mundo novo, 1984, Metrópolis, A invenção de Morel, Cem anos de solidão… Não sei dizer bem como assimilava essas obras na infância, para além da ideia de fuga da realidade banal e possibilidades de outras narrativas, então foi já um pouco mais velha que comecei a me questionar: “Qual é o lugar das pessoas negras nessas obras? O futuro não tem lugar para as pessoas negras?”. O único livro do gênero que li que tinha uma personagem negra foi já na adolescência avançada, e na verdade era uma personagem “híbrida”, meio como a Mística dos X-Men: uma branca que ficava negra nas noites de lua cheia, em O cheiro de Deus, de Roberto Drummond. Por isso escolho morar numa cidade afrofuturista, onde as pessoas negras resistiram e sobreviveram à violência policial, às desigualdades, à falta de oportunidades, ao racismo institucional e estrutural. Um futuro no qual existimos não como pessoas escravizadas. A cidade que escolho tem gente preta criando e produzindo cultura — com altíssima tecnologia, aliás. Vou para essa cidade na “nave” Afrofuturista, de Ellen Oléria com Elza Soares. Esta cidade que é também Pajubá, da MC Linn da Quebrada. É Wakanda fazendo fronteira com as cidades de Octavia Butler, N. K. Jemisin e Tomi Adeyemi. É a cidade de A cientista guerreira do facão furioso, de Fábio Kabral, e das histórias da maravilhosa Lu Ain-Zaila. Nos vemos lá, onde o futuro é glorioso.
Estreou no 13 de março de 2021 no canal do youtube da Casa das Rosas o vídeopoema diáspora não é lar #tbtdofuturo
O vídeo faz parte da programação "Expresso Poesia", já em seu quarto ano, o projeto continua oferecendo doses altamente concentradas de poesia nas tardes de sábado. A cada encontro, um poeta é convidado a estabelecer contato direto com o público, apresentando sua obra em até trinta minutos. Nesta edição, eu fui a convidada <3
Os ventos da Babilônia redemunham sobre esta nação-doente de Deus-acima-de-todos O último comunista relaxa em estado de graça O espírito do capitalista cavalga o camelo da morte pelo buraco da agulha - e da bala
[em “War Poems”, organizado por Diane di Prima, 1968/ The Poets Press Inc.; tradução minha]