tenho sorte IMENSA de ter traduzido este livro.
(e estudo e competência, óbvio)
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dia desses conversava com minino que me disse com cara de bocó “estava pensando nas coisas que você perdeu”.
por estes dias também conversava com um editor e amigo e ele disse “vc não sabe o quanto me fez bem te ouvir. resgatar a esperança que a gente pode se sentir em paz mesmo com tudo ao redor acontecendo”.
e embora tantas coisas perdidas no fogo, embora tanto afogamento (palavra bunita), me sinto com o corpo tão aberto (e fechado).
sou uma pessoa muito aberta pra sorte.
sorte não é privilégio, não é agência, não é direito.
também já escrevi pra minino: “sorte. que os caminhos estejam abertos. dádiva. que se chover eu fique molhada y se o sol torar os cornos que estejamos aquecidos… a verdade é que sou uma pessoa aberta pra sorte.”
tenho a sorte, por exemplo, de conseguir escrever, até no meio do fogo e da água toda.
a sorte de ter conseguido alcançar línguas, quando na infância/ adolescência, parecia a coisa mais distante do mundo e reservada a raras pessoas ~por herança~ divina, ou de classe/ raça/ gênero, ou whatever, imagina tudo junto.
sei que tive sorte de atravessar uma bolha quase instransponível e que isso não se deve apenas ao meu estudo, trabalho e esforço: óura, tanta gente estaria aqui agora, mas não estão.
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um dos maiores aprendizados que tive durante o processo de leitura/ tradução deste livro foi sobre a “voz” - se vivo e convivo em ambientes e com pessoas específicas; se tenho minha maneira única de pensar e agir no mundo, é evidente que minha “voz”, será única.
nos quinze contos desse livro, podemos perceber a voz própria de toni cade bambara dando unidade ao livro, ao mesmo tempo que cada voz narradora, em cada um dos contos, é única, por mais que tenham semelhanças sociais ou até psicológicas.
aprendi, como um reconhecimento, que nossas condições não nos determinam e não devemos ser vistas ~apenas~ como sujeitas da coletividade (“o mundo-dentro é tão real quanto a execução de kadafi” escrevi na “duração do deserto”).
e ainda que, ao narrar, mesmo com toda implicação social, um fato que existe e ponto; junto dos mundos-dentro, junto de algo tão único. parem de nos matar e de nos definir: não queremos e nem precisamos de suffering-porn (“o tecido de nossa pele não é nosso único orgão”, diz marcelo ariel; e bell hooks “não é só minha pele que me define”; e meu irmão poderia ter dito “estou preso, não sou preso”).
somos únicas, únicas. e maravilhosas, produzindo, fazendo e acontecendo. em coletividade.
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(depois de toni cade bambara)
aquele tipo de mulher
que atravessa o delta
esgarça poemas meu bem
arregalase meu bem
goza junto meu bem
sangra junto meu bem
estou sangrando meu bem
e é água encarnada like dark
e é una montana
e é una playa
mango leaves meu bem
lambo meus lábios
atravesso o delta
sangro junto meu bem
nessa onda nessa onda
de calor meu bem
de va gar de va gar
soy una gorila meu bem
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é tanta coisa, que não caberia nunca post, por mais que me ilumine.
que sorte se saber.
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sorte a sua, será ler este livro ;)
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