terça-feira, 30 de dezembro de 2014

um caimento perfeito




minha filha se senta de pernas bem abertas
usa uma calcinha infantil que lhe cobre toda quase nada
esparrama tinta e grãos no chão
se arreganha, se arregala.

combina em tudo com a paisagem:
meia dúzia de livros que logo serão trocados
utensílios de cozinha, duas redes, dois banquinhos
em quase nada tudo cabe
e cabia ainda numa paisagem tribal cheia de corpos nus
brilhantes, suados e lisos
nus a natureza pronta.

da janela bem aberta um espaço outro
paisagem para o nada e sua gente que em tudo não combina dentro
- fecha essas pernas, menina!

junto ao cimento e caos uma pessoa nua de tão pura
exala uma inverdade, um absurdo
por isso toda a gente está coberta de peles artificiais
incríveis botas de pisar o chão doído.

faz sentido.
um mundo que se esvazia para o nada.

volto dentro
a tinta tinge o chão, os grãos, a parede
suas pernas bem abertas
- quer dar uma volta lá fora, pequena?
não.
aqui dentro arde e treme uma outra verdade
que lá fora é invasão, atentado, feiura
corpos fora da des-paisagem.

faz sentido.
dentro é tribo, tecido chão macio pra se morar.

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