25.12.14
uma casinha incendiada
surge no prédio ao lado
o rio cobre as vigas e pedras e cimento e pó
sob o rio se eriçam
casas-lama os homens prontos e um emprego
trilhos e pregos e
gente balouçam na casinha incendiada ao lado
afunda os pés de
brincar co’ ua nanã que ri o ferro que afunda largo
um afogamento pronto pra
uma cidade que nasce com seus homens fortes
na peneira a colher
demora a massa e mofa e demora a massa
o fogão de barro
submerso no lugar que nasce
acena um oi para a
gente que vem incendiada
arde o fogo e a água a
pedra e ferro da gente que vem
olha pra a direita mais adiante
folhas de palmeira pra
palhoça um pouquinho de amianto
entulho e câncer e as cabritinhas
tão bonitinhas ó as galinhas
cisca cisca cisca
ôôôôôôôôôôô
camisas numeradas
regatas largas e de manguinhas
uma cidade emerge
submersa
uma ponte metálica de
madeira uma ponte
escaiada caiada com
luzinhas pra piscar e muda muda
olha a novacor de dez
em dez segundos
um conjunto habitacional
popular há quase cem quilômetros
da gente que levanta e
nasce uma cidade submersa
sete prediozinhos de
três andares pra amontoar a gente
saída de uma favela
onde se gritar um estádio de futebol
ôôôôôôôôôôô
uma cidade surge
submersa no prédio ao lado
é tanta gente é tanta
gente e tudo que sente e faz a gente
incendeia, amor
incendeia
1 comentários:
Um texto intrigante. Muito bom!
Um beijo grande
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