quinta-feira, 27 de março de 2014

tipitaka, em lugar de poesia

aos fodidos do mundo


1.
as ruas do mundo se oferecem na fedex
um prozac, um sabonete
usado com pentelhos grudados
embora gaste dentro esse sotaque
eu nunca fui pra califórnia

do outro lado da rua os correios
- enviar uma carta de 110g.
sai por 6,72
                        a minha miséria também é sua

eu me jogaria do 8º andar

o chão quente do centro
chega à sola de todos passantes
eu não tenho nenhum centavo
para o almoço, para os cigarros

uma moça me entrega diamba
os versos de mombaça me estalam
um metrô que não funciona
a calcinha tão pequena que me rasga

penso em partir para outro sítio

cantar os meus mortos
é atravessar um campo de neve

2.
um verso me martela
abandonar o território conquistado

o homem antigo barbado e com óculos
é só um desenho manchado

as pessoas se abandonam

talvez o nome puro, qualquer nome
fosse mais que desejo
ou menos mais ou menos

em sarajevo toda criança tem a pele coberta
dum cheiro ocre
os muros parecem dizer i adore you

lá sonhei com duas árvores
uma delas africana
eu e concha como coisa única
nunca existimos, nem novokuznetski

tenho a ousadia de dizer
meu nome, qualquer nome

é madrugada
nenhum barulho de gente trepando
nem nas janelas ou ao meio-dia

úmida, úmida

3.
estive no templo
por alguma razão que não busco entender
eles cobravam entrada
do lado de fora fiquei a olhar
os pés retorcidos e a cenografia do desespero

lembrava
as duas sujeitas propondo cultos
– você tem cara de crente
você daria uma ótima crente
eu daria apenas, e sigo a dar uns olhos de encruzilhada
essa vingança em ser mortal, ser o que quiser
conquanto palas e deuz e anúbis sempre eles

a cara do desastre
ser o que quiser desde o caminho da miséria
e a duração do que não pode permanecer
o templo, a ruína
em lugar de poesia

. oráculo

0 comentários: