segunda-feira, 11 de julho de 2011

"please put down your hands 'cause I see you"

Nina Rizzi, Fotografia sobre Pop Art do IVAM - Instituto Valenciano de Arte Moderna/ Espanha, 2009.

e como doesse o esquecimento e a inércia, caminho até à praia, que o frio cortante é tão raro como sua imagem de boneca russa, acrobata de filmes antigos, um vermelho vintage.

que seria um desperdício deixar o dia passar assim, depois da noite passada, dos lábios macios e das mãos por dentro da calcinha de florezinhas ou ursinhos ou qualquer dessas coisas delicadas.

então um maço de balões voava pela avenida e eu podia morrer correndo assim atrás de balões. mas todos os carros param pra uma moça passar com seus cabelos e euforia infantil e um homem lhe entrega o bouquet de balões e eu fico pensando nela, se já terá ido à paris, ela que é mais francesa que a menina que eu beijei num campo em construção como prêmio pelo cuspe à distância. 

combina com ela, o chão que nunca vi, as pedras no calçamento como àquelas de copacabana ou de camboriú. o calçamento repleto de murta, os jardins repletos de cheiros que não de morte. e a menina que me acena no poema que recorda: quartier latin, rhümi e japamala.

era um convite à vida, a moça que afasta o caderno, levanta os óculos e diz: o play, tem velvet underground na vitrola. vitrola, sim. e máquina de escrever e uma franja lisa e um falso corpo magro como gostava alberto vargas e eu sublimo.

desço à praia com os balões e essa angústia tão própria de mulher e esses desejos escondidos tão próprios de ser e essa paisagem de cinema. quando a noite cai.

passo os dedos pelas pontas do cabelo e é áspero, como uma resignação profunda, um constatar quase-patético: viver a música, viver o cinema, viver o poema. quando o corpo suspende.
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