quinta-feira, 21 de julho de 2011

one box of fifty pounds

Nina Rizzi, Autorretrato, 2005.

lembro do início. eu te achava e te ria e te queria e te comia. você me gostava por causa dos versos: vinde a mim os casados e eu vos aliviarei. então a paixão entornou. me assustei. te ver me rasgou o supercílio, contraiu o ílio. depois ficamos anos nos olhando à distância. um, dois, era a eternidade. então arranjei um jeito surreal de nos juntar sem levantar suspeitas. e te abandonei pra chorar no meio fio. e te encontrei pra chorar minhas inseguranças e vilanias. e te amei e me enrosquei. então parecia que a gente ia se fundir feito cola, eu me solidificava dentro de suas estruturas. mas você só lembrava aqueles primeiros versos, que ironia, diante de tantas orações profanas que fiz com teu nome. então você olhou pra trás, quinze anos e a mesma mulher. quinze anos de cumplicidade diante de nossos encontros que juntados não davam um só dia. e como eu me rastejasse tanto, você acreditou que eu era borboleta, voava alto e morria depois de um dia. você gostava dessa morte, porque abjeta borboletas. e mesmo que você me tenha matado, não te abnego, lembro outros versos: uma caixa de glórias, adeus.

ninar.