traduzi os três poemas fabulosos abaixo para o 7º número da revista despacho editada pela corsário-satã e com curadoria de fabiano calixto. deixo os poemas aqui e o convite neste link para que leiam a revista completa. tá peso.
Ode à gentrificação
Samantha Thornhill
Moradores coroas desse
bairro branqueado-qboa dão a letra:
a coisa mais autêntica
dessa rua reinventada
na madame branquela
e no seu yorkie
é o couro da coleira
que os acorrenta.
Seu próprio nome, um estilhaço
de vidro profundamente enraizado na banha
do nosso vernáculo. Gentrificação,
justamente confundida
com justaposição:
cults bacaninhas com arrogância,
grilagem de terras,
arranha-céus depressivos,
bodegas suspirando soja.
Meninas e moleques peruanos engordam
geladeiras com puríssima água Fiji entre
uma e outra tarefa de casa, enquanto papai
prepara e reparte tudo e mamãe
se preocupa com os registros de energia.
Fazendo fita pra tua gratificação,
O nascimento é gratidão – irmã
gêmea do arrependimento.
Me chama de arrependida.
Foi mal aí te agradecer
pelo jeitinho que
participo da sua cruel
e conveniente, mágica.
Por remover
as famílias que sonharam
onde minha cabeça hoje descansa.
Ontem, as roupas voltaram da lavadeira
mais límpidas que sinos, lingeries
acariciadas pelas mãos
de outra mãe.
Sento em cima da cara
seu lado da moeda,
bebendo a escória azul do céu
enquanto os adolescentes que ensino,
e as vóinhas pretas
duronas que dou um salve
e ofereço um banco,
beijam o asfalto.
--
Ode to Gentrification
Old school denizens of this
bleach-boned block say:
the realest thing
about the white woman
and her Yorkie
on this reimagined street
is the leather of the leash
that tethers them.
Your very name, glass
splinter planted deep in the fat
of our vernacular. Gentrification,
rightly mistaken
for juxtaposition:
pretty boys with swagger,
checkerboard trains,
skyscraper sadness,
bodegas sighing out soy.
Peruvian girl and boy fattening
fridges with Fiji between
homeworks, while Pops
slices and dices, and Mom
rocks the register.
Kissing cousin to gratification,
you birth gratitude—
twin to regret.
Call me regrateful.
I am so sorry to thank you
for the manner in which
I participate in your cruel,
and convenient, magic.
You ushered out
the families who dreamed
where my head now rests.
Yesterday, I retrieved laundry
cleaner than bells, unmentionables
caressed by another’s
mother’s hands.
I sit on the up-
side of your coin,
drinking down the sky’s blue
dregs, while the teens I teach,
and the sturdy black
grandmothers I salute
with my seat,
kiss concrete.
*
Carvão
Audre
Lorde
Eu
A
suprema pretura, que fala
Das
profundezas da terra.
Existem
muitas maneiras de se abrir.
Como
um diamante se abrindo num nó em chamas
Como
um som se abrindo numa palavra, colorida
por
quem assume os riscos para falar.
Algumas
palavras são abertas
Como
um diamante em vidraças
Cantando
na cadência do sol que as atravessa
E
também há palavras como desafios grampeados
Em
blocos-de-notas – listar, comprar e descartar –
Aconteça
o que acontecer, todas as possibilidades
O
canhoto permanece
Um
dente mal-arrancado com uma borda lascada.
Algumas
palavras vivem na minha garganta
Se
reproduzem como víboras. Outras conhecem o sol
Buscando
como ciganas sobre a minha língua
Explodir
pelos meus lábios
Como
jovens pardais explodindo sua casca.
Algumas
palavras
Me
atormentam.
Amor
é uma palavra que inaugura outra maneira de se abrir.
Como
um diamante se abrindo num nó em chamas
Sou
preta porque venho das profundezas da terra
Segura
a minha palavra, como uma joia aberta em sua luz.
--
Coal
I
Is the
total black, being spoken
From the
earth's inside.
There are
many kinds of open.
How a
diamond comes into a knot of flame
How a
sound comes into a word, coloured
By who
pays what for speaking.
Some
words are open
Like a
diamond on glass windows
Singing
out within the crash of passing sun
Then
there are words like stapled wagers
In a
perforated book – buy and sign and tear apart –
And come
whatever wills all chances
The stub
remains
An
ill-pulled tooth with a ragged edge.
Some
words live in my throat
Breeding
like adders. Others know sun
Seeking
like gypsies over my tongue
To
explode through my lips
Like
young sparrows bursting from shell.
Some
words
Bedevil
me.
Love is a
word another kind of open –
As a
diamond comes into a knot of flame
I am
black because I come from the earth's inside
Take my
word for jewel in your open light.
*
MALCOLM X
Gwendolyn Brooks
Para Dudley Randall
Primordial.
Tipo puído-puro,
Tipo poderoso-parrudo.
Seus olhos eram de homem-falcão.
Ficamos perplexos. Vimos a virilidade.
A virilidade varrendo tudo, tornando o ar gutural
E nos impulsionando contra as muralhas.
E num momento sereno e essencial
Um sortilégio piedoso e vertical
Seduziu o mundo.
E nos abriu pra sempre porque -
Ele era
palavra-chave
Ele era o cara.
--
MALCOLM
X
Gwendolyn
Brooks
For
Dudley Randall
Original.
Hence ragged-round,
Hence rich-robust.
He had the
hawk-man’s eyes.
We gasped. We saw the maleness.
The maleness raking out and making guttural the air
And pushing us to walls.
And in a
soft and fundamental hour
A sorcery devout and vertical
Beguiled the world.
He opened us
—
Who was a key.
Who was a man.
1 comentários:
Prezada Nina,
Me chamo Roziane, adoro poemas e poesias, comecei a ler Tambores pra n’zinga, lendo, relendo, ora compreendendo ora não.
me dar uma luz neste poema:
kabuki
com a força de um hímem
os pés apertados de gueixa
me recolho
lanço
bênçãos e espadas.
amores rizzíveis
a gente não transou no papicu aquele dia.
todos nos olhavam. perplexos
você só queria uma fotograia
eu, poesia.
maracatu
sou grande, todo o largo.
imensa pra qualquer canto.
danço
como setenta pombas-gira.
na bandeja,
a cabeça de joão batista.
modinha pra trompete em si bemol
à hora do banho
cartola me derrama
como quando corto cebolas
a noite, invisível
estirada no chão frio, ico a contemplar
a cadeira de balanço em seu vai-e-vem infantil.
a solidão de fora não é maior que a de dentro.
quantas crianças assim adormecem
a esperar os pais, as mães, virem da lida?
a velha, olhos lacrimejantes, revira caçambas.
os passantes, nem lhe vem, nem um vão.
o lixo sim: brinquedo, comida.
quantos corpos ao imenso, ao vazio
pra o indar da guerra?
titãnzinho
eu gosto do afogamento.
de olhos bem abertos, lá no fundo
sentir a força das ondas
que vêm e encaldam, maremoto.
eu tenho medo, claro:
de nunca mais querer voltar
e voltar.
rozziane@outlook.com
rozianemichielini4@gmail.com
Preciso entender o que você quer dizer nestes poemas, por favor.
Agradecida
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