"A duração é um conceito criado por Aristóteles ligado ao tempo, mas que ganhou corpo e notoriedade com Henri Bergson, espalhando-se,em seguida por toda a literatura do século XX, de Proust a Clarice Lispector. A duração não é o tempo compartilhado, dos relógios, não é o tempo adotado como sucessão espacial, mas o tempo liberto do espaço, não é a história, embora contenha a história, a duração é o fluir do rio. Não é interna nem externa: ela atravessa. É o tempo que o torrão de açucar demora para derreter no café. O tempo que a vela é, e, depois de ser consumida, não é mais, tornado-se apenas cera, ganhando nova forma, dissolvendo-se. Lendo a Duração do deserto, de Nina Rizzi, Editora Patuá. Tremenda junção de poesia, cotidiano, oralidade e filosofia. Temas profundos e, por vezes difíceis, sem perder a coloquialidade que se tem quando se manda um e-mail para um amigo. Aliás, um dos poemas é mesmo um e-mail para Fabiano Calixto. Prévia:
cantata para deleuze e berkeley:
quando ontem papai ligou
se abatiam meus pés as estradas velhas
era dia de véspera, a arder o oco do mundo
ainda agora mergulho o nada e a náusea
submundos, paraísos artificiais, o terrivelmente real
chegar entre"
- Daniel Lopes (via Facebook)
***
"Nina, gostei muito do seu livro, desde a capa que até parece daqueles seus desenhos lindos. Eu já pensei que queria ter a sua cultura, ver como seus olhos veem, só para poder absorver as coisas assim, de uma forma tão original. E muito bom o que Carlito Azevedo e Fernando Monteiro falam no final, é bem aquilo, se eu soubesse traduzir, que eu diria.
Seu espírito é elevado, você não faz alarde como tantos que vejo por aí, sua preocupação é com a arte, a poesia do mundo... Vc é grande, moça. Eu fico por perto de olho para não perder, tanta coisa que conheci contigo. Tempos atrás mesmo eu comprei o Trabalhar Cansa, do Pavese, das coisas mais bonitas que já li. Lembro que conheci na sua revista =).
Beijo."
- Lara Amaral (por e-mail)
***
"Querida Nina, acabo de ler A duração do deserto. Uma belíssima experiência polifônica, multidimensional, provocadora e emocionante. Impressionam-me os tantos ambientes pelos quais você trafega, o "maravilhamento e uma monstruosidade", como disse Carlito, "peixe que se pega de repente com a mão", como registrou Cid. Imagens lindas, como "esse desejo tão puro de uma delicadeza terrível / um silêncio que se abra no poema". A edição da Patuá é sempre caprichada e valoriza a obra. Valeu a espera! Um beijo!"
"Nina, gostei muito do seu livro, desde a capa que até parece daqueles seus desenhos lindos. Eu já pensei que queria ter a sua cultura, ver como seus olhos veem, só para poder absorver as coisas assim, de uma forma tão original. E muito bom o que Carlito Azevedo e Fernando Monteiro falam no final, é bem aquilo, se eu soubesse traduzir, que eu diria.
Seu espírito é elevado, você não faz alarde como tantos que vejo por aí, sua preocupação é com a arte, a poesia do mundo... Vc é grande, moça. Eu fico por perto de olho para não perder, tanta coisa que conheci contigo. Tempos atrás mesmo eu comprei o Trabalhar Cansa, do Pavese, das coisas mais bonitas que já li. Lembro que conheci na sua revista =).
Beijo."
- Lara Amaral (por e-mail)
***
"Querida Nina, acabo de ler A duração do deserto. Uma belíssima experiência polifônica, multidimensional, provocadora e emocionante. Impressionam-me os tantos ambientes pelos quais você trafega, o "maravilhamento e uma monstruosidade", como disse Carlito, "peixe que se pega de repente com a mão", como registrou Cid. Imagens lindas, como "esse desejo tão puro de uma delicadeza terrível / um silêncio que se abra no poema". A edição da Patuá é sempre caprichada e valoriza a obra. Valeu a espera! Um beijo!"
- Alberto Bresciani (por e-mail)
***
"Nina, cara mia, como vai? [...]
li teu livro, que me toca em muitos pontos/contatos,
a começar pelo título: a duração do deserto (me lembrou de relance o título de
um livro de Micheliny Verunschk, "geografia íntima do deserto" - mais
espacial, enquanto o teu mais temporal).
Você faz emergir do som do francês ao dos tambores,
do cheiro do barro à várzea, de Maiakovski a Warhol, entre outras inusitadas
aproximações de imagens diferentes. [...]"
- Joana Corona (por e-mail)
***
A DURAÇÃO DO DESERTO
“A tentativa
de captar, no deserto, um universo de perdas e a luta contínua da poeta por
apreender instantes que não não se fincam no tempo. A história é ruína no
deserto; tudo virá pó, esquecimento, (des)memória de algo que passou e não se
sustentou; mesmo vínculos - aparentemente - estabelecidos são rompidos, porque
delicadezas também devem se perder. Em 'A Duração do Deserto', como no 'Angelus
Novus' de Klee, vemos o passado em ruínas e num último relance, ouvimos o
cantar desse caos como que tentando marcar o mínimo de permanência naquilo que
necessariamente não fica. Tudo é ruína, é a ruína que permanece.”
- Matheus Pazos (adaptado, por e-mail)
***
Estrela, 1983
para Nina Rizzi
Este roteiro nasceu em Sampa.
Eu, adolescente, fazia teatro em Minas.
Era noite. Era frio.
E seria deserto se não fosse sério
o tal amor.
Por que não haveria jardins
no inverno?
É dentro. Muito dentro
que começa tudo
que evolui histórias.
O deserto dura porque é dentro.
Quem atravessa 40 dias e 40 Anos
pra aprender o grão
merece conhecer a flor.
E pensar que em 1983 tudo que
eu mais queria era ser
uma espécie de Cleópatra
sem Ave César nem serpentes, mas
Marco Antônio eu encarava.
Eu encarei e fiz uma filha.
Encarei Nina Rizzi e fiz um poema
E faço mais: aprendo um pomar!
*
Neste fim de semana li o belíssimo livro da Nina - a
duração do deserto. simplesmente, mágico! estou me deliciando nesse pomar até
agora.
obrigada, Nina, por sua encantada poesia!
- Lou Albergaria (via facebok)
***
poema pra dizer quanto
[à n., à i.,
e para L.]
não meço a importância das coisas por dentro
mas é lento que aprendo
não ver passado
presente e permanência
no instante.
em dia de todos os amores
de tempestades nos cantos do paraíso
tem encontros que são promessas
(das mãos da menina
dos a-braços de nina
do corpo todo d'eu aos olhos do tu)
percebi então que o deserto cabe num peito
ou repousando sobre ele
numa carícia exausta
onde as gotas de suor
são os tantos grãos de areia
porque o deserto é todo
o tempo
é o deserto
a areia
atravessando para o outro lado
movediça
e caímos
num breve espaço de ampulheta
deserto é o inabitável de mim mesma
(que te mata de sede e fome
te some e te consome
e inda vem você me morar
− e fique o quanto quiser)
deserto também sou eu
− e o seu, nina, não atravesso só −
deserto, pó
dos mundos que não vivemos
e que nos trouxeram até aqui
através dos ventos
− soprados na nuca
deserto explorado da pele
dos poros
arrepio
das tempestades derrubando paredes
fragmento
arrepios −
(não me deixa dormir, não
deixa eu te soprar torta
os versos que eu erro
e me esqueço rente a teu ouvido
por não te saber de cor
e desço
pra te descobrir de novo)
e venta agora já me sei
− e nunca mais parou a ventania...
deserto pode ser sonho
de se esperar
desesperar,
mas meu desertar
foi o despertar.
http://chemindefugue.blogspot.com.br/2014/03/poema-pra-dizer-quanto.html
- Danielle Takase (via facebok)
***
0 comentários:
Postar um comentário