sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

cãnina

Di Cavalcanti (carioca, 1897-1976). O Grande Carnaval, óleo sobre tela, 1953
eu não me lembro das festas carnais. mas tinha aquela vez de dona rita, como todas de cássia, ter quase nove meses completos em meio à greve e nascer uma meninaninaellena. e tenho de primeira lembrança eu menina na avenida levando cascudos na avenida da dona rita como todas de cássia: "samba, menina!". quatro anos, quatro horas da matina e a fantasia da bailarina que nunca fui.

depois só lembro dessas madrugadas em que eu sonho, tu sonhas, ele sonha, nós sonhamos, vós sonhais, eles sonham. de sonhar acordada sem poder apreciar um bom jantar. talvez porquê seja a mulher mais dionisíaca que jamais se conheceu e fique fazendo versos em línguas extintas. versos de se recitar boca-a-boca, "NA BOCA! NA BOCA!", em happening. sim, happhapphapp.

depois não. a febre passa em delírio tardio. o gozo é tão louco e contínuo e profundo, ou sequenciais, leves curtos, sincopados e múltiplos, mas de vindimas tão coloridas que explodo em choro de emoções revolvidas. 

aí eu lembro. lembro que estou sozinha em meio à intervalos e nunca vi um pierrô, arlequina colombina, brasilina, italianina. era um engodo: dissimular uma euforia a despeito de sentí-la deveras. disritmia mesmo. palavra bonita de oscilar estados e extremos. 

mas era bonito também o sonho. nossa, só era. o circo pegando fogo in blue, pululando círculos,abanando o rabo. a ladrar, se aninhar e ganir. cachorro-sem-dono revirando lixo.

nenhum centavo, mas jazz em mim todas as cadelas do mundo. 

2 comentários:

Salvatore disse...

Un bel dipinto che mi ricorda PICASSO. Saluti da Salvatore.

Marcelo Novaes disse...

Nina,


O sonho e o poema são antipatrimoniais.
E a maioria dos gozos.



Um beijo, querida.