quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

vertebral

Roberta Fernandes, teste/ nossa verdade ninguém vê; artseries in progress, 2015.


penso palavras tão puras
palavras tão negras

uma mão escreve o silêncio
outra mão agarra o nada

e uma flor
          e outra flor

um vau de rio na escuridão
um vaso índio e a pura lama

penso palavras tão puras
palavras tão negras

o olho mansidão
claraclaridade

o mar e o cheiro do mar
o barco e o barqueiro

uma respiração do abdome
aos pulmões      ao abdome

penso palavras tão negras
palavras tão puras

no movimento dos dedos
a ligação do céu co’a terra

no movimento dos quadris
a união do vento co’ fogo

na imobilidade
a mais completa ação

penso palavras tão negras
palavras tão puras

nossa verdade ninguém vê
o fogo a textura a série

uma ruazinha
nascada de tinta

um precipício na esquina
arribação do tu&eu

penso palavras tão negras
palavras tão puras

e o poema está inteiro

                        in progress
Roberta Fernandesnossa verdade ninguém vê; artseries in progress, 2016.

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